#8 Resenha de um vinil
Essa carta é para minha amiga secreta, do projeto do grupo de newsletters d'O Tempo & O Texto, mas é para todo mundo que se inscreveu aqui também.
Querida amiga secreta,
Sempre gostei de ouvir música, desde pequena, muito por influência dos meus pais. Lembro de ouvir fitas em casa e no carro, dos meus primeiros CDs da Eliana e Chiquititas. De sentar em um banquinho com fones de ouvido maiores do que eu plugados no aparelho de 5 CDs da sala (um dia incrível foi quando descobri como colocar todos eles no shuffle com o controle remoto).
Uma história engraçada: quando era bem pequena, acostumada com CDs e fitas no anos 90, perguntei aos meus pais o que eram aquelas “pastas” na estante. Eram discos de vinil. Meus pais contam essa história até hoje, rindo, porque fiquei genuinamente confusa com o tamanho daquele “CD gigante”.
Lendo seus textos, me deparei com este aqui, sobre vinis. Meu irmão tem um toca-discos completo, com amplificador, caixas de som (essas, eu que fiz com meu pai há uns anos, longa história), mas faltava a agulha. Comprei uma de presente quando nos mudamos, para que pudéssemos ouvir os discos lá de casa. Por sorte, meu irmão trabalhou por anos consertando aparelhos de som antigos com um senhor que tem a maior coleção de rádios do país lá em Bragança Paulista, que nos vendeu a agulha.
Sempre ouvi as mesmas coisas — nos últimos anos, minha retrospectiva do Spotify me colocou como 0,5% das pessoas que mais ouve Pink Floyd e 3% que mais escuta Florence + The Machine. Tenho dificuldade de conhecer novas bandas e ouvir novas músicas, sou apegada ao que já gosto e escuto de novo e de novo. Pink Floyd é minha banda de conforto. Acho incrível quem está sempre escutando novas bandas, músicas, conhecendo e indicando para os outros.
Enfim, esse parêntese foi só para deixar claro o quanto escuto Pink Floyd, porque é claro que foi a primeira banda que quis ouvir no dia que finalmente ligamos todos os aparelhos de som na casa nova. Eu não tenho nenhum vinil — mas meu irmão tem um monte, alguns herdados dos nossos pais, outros, do padrasto, alguns comprados. Escolhi The Wall. Coloquei, acertei manualmente a agulha porque o automático está meio engastado, ajustamos os amplificador e sentei no sofá para curtir a música.
E dali a poucos minutos, tive que levantar para mudar o disco de lado. E depois para colocar o segundo disco, e para virar ele também. Rindo, disse ao meu irmão que era super legal, vintage e tudo mais, mas da próxima vez ligaria o celular no cabo P2 do amplificador para ouvir música (o que faço sempre, inclusive).
Que trabalheira para ouvir música! Ao mesmo tempo, a experiência toda foi diferente, desacelerada, focada. Não tem shuffle, não tem pausa, sou eu e a música, o tempo passando no tempo de cada faixa, em um álbum que é uma faixa só praticamente, contando uma história. Inclusive, amo ouvir álbuns inteiros. Se fosse dar nota, como o John Green faz com tudo em seu livro Antropoceno: Notas Sobre a Vida na Terra, daria 3,5 estrelas pela comodidade (ou falta dela), mas, como experiência, 4,5 estrelas — nossos fios estavam meio mal encaixados e algumas vezes parou de tocar de um lado.
Fiz a mesma coisas outra vez esses dias, e agora minha meta é comprar um Dark Side of the Moon para ouvir em vinil (meu pai já indicou qual versão comprar, depois de debatermos a diferença dos diferentes lançamentos dos remasters), embora meu irmão tenha os arquivos em .flac no computador, com uma qualidade extremamente superior.
No fim das contas, é o que você traz na primeira linha da newsletter: o digital pode ter toda qualidade do mundo, mas ouvir vinil é uma experiência. Separei um tempo para deitar no sofá e ouvir música. Não apenas coloquei nos meus fones de ouvido AKG enquanto continuava a trabalhar ou jogar The Sims. Deitei nas almofadas com os gatos, fechei os olhos e fiquei ali, curtindo um dos meus álguns preferidos. Sem botão de pausa, sem gritar para aquela-que-não-pode-ser-nomeada (a Alexa) parar de tocar. Só eu e a música.
No carro, nosso rádio engoliu um CD do McFly há 2 anos, e antes disso ficou uns 3 com Greatest Hits III do Queen. Somos obrigados a ouvir rádio, que por si só é outra experiência, que fica para outra hora.
Boas Festas, Victória (e todos que leem essa newsletter das coisas doidas da minha cabeça), e obrigada por resenhas que ninguém pediu que me fizeram conhecer novas músicas e parar para analisar toda essa experiência de outra maneira.
— Gabi Colicigno
Leiam a Victória em:
PS: Voltamos em 2023, talvez com maior periodicidade, mas não prometo nada.
Ahhh que amor, Gabi!
Realmente, ouvir vinil é uma experiência. Eu amo o encarte, imaginar o que o artista quis com aquela capa, acompanhar a letra da música (que as vezes acompanha o vinil) e etc. Quando eu comecei a me dar por gente, já existia o CD, então eu conseguia pular faixas, repetir e esse tipo de coisa. Não demorou muito veio aqueles aparelhos de Mp3, Youtube, Spotify e ai tudo mudou. Particularmente, acho que meu interesse pelo vinil veio por meio do cansaço. Sabe, é legal quando o Youtube te joga para algo novo, ou quando o Spotify te recomenda uma música parecida, mas isso cansa, dá uma estafa... Por outro lado se não fosse a internet, eu não conheceria muitaaaa coisa, nem teria acesso, se bem que, parando para pensar, o problema não é a internet e sim os ambientes que ela tem criado. Enfim, dilemas da modernidade.
Eu gosto muito do Pink Floyd também, mas ainda não tenho nenhum vinil deles. Dever delicia demais ouvir no vinil! Você falou do McFly e me recuperou boas memórias da infância haha Eu amava um filme da Lindsay Lohan, Sorte no Amor o nome, que aparecia eles. Assisti tanto esse filme que furei o DVD kkkkk é sobre isso.
beijos e obrigada <3